10 novembro, 2006

Nutracêuticos



A ciência ao serviço da saúde

Nutracêuticos: Um novo conceito?


A importância da alimentação para a manutenção da saúde nunca esteve em dúvida. Independentemente dos hábitos alimentares, das dietas tradicionais desta ou daquela cultura ou civilização, das prescrições e proscrições de carácter religiosos (de que a interdição da carne de porco é certamente a mais conhecida, comum como é a judeus e muçulmanos), a verdade é que sempre se tomou como certo que determinados alimentos - e o modo de os confeccionar e de consumir - são bons e outros são prejudiciais para a saúde. A chamada sabedoria popular fixou em provérbios algumas dessas convicções, atribuindo por exemplo à modesta maçã autênticas propriedades profilácticas: an apple a day keeps the doctor away.


A extraordinária saga das vitaminas veio dar suporte científico a esta concepção da importância dos alimentos para a conservação da saúde. O uso do limão e de legumes frescos para a profilaxia e cura do escorbuto, a relação entre a dieta de arroz descascado e o béri-béri, a incidência da pelagra na população minhota consumidora de pão de milho, são exemplos clássicos da importância das vitaminas como agentes indispensáveis à vida, carreadas por alimentos, não sintetizáveis pelo organismo e cuja carência condiciona quadros patológicos graves ou até fatais.

Mais recentemente, porém, reconheceu-se que para além das vitaminas existem numerosos princípios químicos, presentes nos alimentos e que desempenham papeis importantes na economia do organismo, intervindo na profilaxia e na correcção de manifestações mórbidas. A esses princípios deu-se o nome de nutracêuticos, um neologismo em que o símile com os "farmacêuticos" (produtos...) é evidente.


Exemplos dos "nutracêuticos são os antioxidantes, tais como o beta-caroteno, o selénio e o zinco, ou o ácido ascórbico e o tocoferol (que assim se apresentam com o duplo perfil de vitamina e nutracêutico) e, factor mais recentemente reconhecido, a luteína, um carotenóide com acção anti-oxidante, de efeito protector a nível da retina e da mácula. O facto de o consumo regular de luteína reduzir para cerca de metade o risco de desenvolvimento da degenerescência macular dos idosos (a causa de cegueira secundária prevalente em todo o mundo), veio suscitar um enorme interesse por esta substância.

Talvez seja ainda demasiado cedo para aceitarmos a necessidade de criar uma nova classe de princípios terapêuticos, os nutracêuticos. De qualquer forma, sabemos que os alimentos são essenciais para a manutenção do estado hígido e que vários dos seus princípios activos, de natureza vitamínica ou de outro tipo, são indispensáveis para o delicado equilíbrio das funções vitais, para ter mais vida e melhor qualidade de vida. Uma dieta equilibrada, variada, com a presença regular de legumes, frutas, lacticínios, azeite, proteínas animais ( em quantidade moderada), não hipercalórica, constitui certamente um excelente contributo para a profilaxia de doenças cardiovasculares e degenerativas que ameaçam as populações dos países ditos desenvolvidos. Quando se não verifique a adopção de uma dieta conveniente, como tantas vezes acontece em idosos, pessoas que vivem só, crianças, grávidas, é seguramente conveniente recorrer a suplementos farmacêuticos que contenham vitaminas e antioxidantes em doses e proporções adequadas.

No início deste novo milénio parece ter-se, finalmente, entendido que o ideal latino da mente sã em corpo são só é possível se os nossos comportamentos nomeadamente alimentares, forem sadios e equilibrados.

Walter Osswald
Professor aposentado da Faculdade de Medicina do Porto

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